In The G.O.A.T. planet



       Meu nome é Kyre (se lê KAIRE na sua língua) e eu vivo num planeta chamado G.O.A.T. Tenho apenas sete eras de idade, sendo que cada era corresponde a dois anos terrestres.
         Por eu ser muito novo – os Monsters mais velhos chegam a ter quarenta eras ou mais –, a maioria das coisas que sei sobre o meu planeta, aprendi na escola.
         Nunca saí da minha cidade, até agora.
         _O que acha de acamparmos na Dark Forest? – perguntou-me Kumu enquanto atravessávamos a ponte que corta o rio River Bubbles. Kumu é um Monster bem comum. Suas unhas (em formato de garras) são transparentes, como as da maioria dos Monsters daqui. Seu cabelo é branco, a cor mais comum de cabelos desse planeta. Seus olhos, azuis, são comuns em todo o universo também, inclusive na Terra. E é isso o que o diferencia de todos os outros: sua normalidade.
         _Acho perigoso. – respondi à sua pergunta. A Dark Forest é a floresta mais desconhecida e famosa do G.O.A.T., e também a maior.
         _Ah, pare com isso! Acredita mesmo que existem animais terrestres e antigos dentro daquela floresta? – diz a lenda que, a milhares de eras atrás, a Rainha trouxe, da Terra, algumas espécies de animais e mandou que a HOG os soltassem no centro da Dark Forest. Os humanos levaram todos os animais da Terra à extinção, mas, provavelmente, aqueles animais terrestres se reproduziram no interior da floresta e vivem lá até hoje.
         _Tudo bem, eu vou. Mas se algo me acontecer, eu te mato. – sorri.
         _Se algo te acontecer, eu me mato. – ele sorriu. Éramos amigos mesmo antes de nascer. Conversávamos por meio de telepatia enquanto estávamos dentro dos ovos de diamante (Monsters com menos de uma era têm essa habilidade).
         Dei a sugestão de chamarmos mais alguns amigos, e lá fomos.  Passamos por enormes casas de vístiro (material retirado da praia Electric Beach, forte como o vidro e leve como o plástico, que permite que as casas flutuem a mais de 10 metros do chão). As ruas espelhadas refletiam o céu amarelado e os cabelos coloridos dos Monsters que passavam por ali.
         _Nunca parei para pensar o porquê de o céu ser amarelo. – comentei com Kumu.
         _A lenda diz que: antigamente, quando a Rainha ainda morava na Terra, existia uma profissão onde as pessoas cantavam e cobravam para que os outros pudessem ouvir. A Rainha era uma cantora famosa e ganhou muito dinheiro com isso. Também existiam prêmios para quem cantava melhor. O mais importante deles era o Grammy, e a Rainha ganhou vários. E é disso que é feito a atmosfera do planeta: vários Grammys, ligados uns aos outros por uma espécie de raio dourado.
         _E como sabe de tudo isso? – perguntei assustado.
         _História é a minha matéria preferida na escola. – ele riu.
         _A minha matéria preferia é Biologia, e nem por isso eu sei tudo sobre os seres vivos da Terra. – eu ri.
         Continuamos andando. Chegamos à uma rua que passava por dentro de um túnel de Séopes (árvores gigantescas de mais de 30 metros de altura).
         _Suba aí, é um atalho. – disse-me Kumu.
         Cravamos nossas unhas no tronco da árvore e subimos. Os galhos chegavam a ter 5 metros de espessura, portanto, podíamos usá-los como passarela. Andamos até que chegamos à frente de uma casa grande. Tinha quatro andares e era toda transparente menos, é claro, nas áreas onde ficam os banheiros. Havia algumas Trimonds (árvores esguias de cristal e diamantes) flutuando em volta da casa.
         A porta se abriu antes que pudéssemos tocar a campainha.
         _Entrem! – gritou uma voz de dentro da casa.
         Demos dois passos, ficando em cima do chão transparente, que se moveu como uma esteira, nos levando até a piscina, nos fundos da casa.
         O chão parou bruscamente, fazendo com que Kumu tropeçasse e caísse para frente. Minha primeira reação foi fincar as unhas na camiseta dele e puxá-lo para trás.
         _Você está me cortando! – disse-me Kumu. Só aí eu percebi que estava machucando-o com as unhas, e então o soltei, fazendo-o cair de costas. O chão embaixo dele se moveu por mais três segundos, colocando-o na beira da piscina.
         Laze não conseguia parar de rir, observando a cena de dentro da água. Rimos muito, até que percebi que Kumu, ainda caído no chão, chorava baixo.
         _Laze... – chamei, direcionando o olhar à ele para que ela também parasse de rir.
         _Ah, vai chorar? –comentou Laze, em tom de deboche.
         _Minhas costas... – respondeu Kumu, ainda chorando. – Estão doendo.
         _Nossa, mas que frouxo, só um arranhãozinho já te faz chorar. – continuou Laze. Eu já podia ver que aquilo não acabaria bem. Kumu odiava quando Laze brincava assim, principalmente quando ele estava falando sério. O fato é que ele se levantou com certa dificuldade e entrou na casa. Direcionei um olhar de desaprovação à Laze e fui atrás dele.
         _Kumu – chamei-o, entrando na casa –, não fique assim. Ela estava brincando.
         _Não estou chorando por isso. – respondeu ele. Segui a voz e encontrei-o no banheiro, sem a camiseta, sentado na pia, com a torneira ligada sobre suas costas. – Bom, não apenas por isso.
         _Então o que foi?
         _Minhas costas. Estão realmente machucadas. – ele se virou e pude ver cinco furos que pareciam fundos, bem na parte onde eu havia segurado.
         _Ah, my Mother, me desculpe! – comecei a me sentir realmente culpado. – Era melhor eu tê-lo deixado cair na piscina.
         _Eu cairia em cima de Laze e vocês ainda assim iriam rir.
         Ficamos em silêncio por um momento, até que resolvi falar.
         _Então... vamos. Temos que encontrar algo para colocar nesses seus machucados.
         Aqueles furos estavam realmente feios. Eram como buracos de dentes de um cachorro terrestre.
         Saímos do banheiro e voltamos à piscina, onde Laze parecia estar pensativa.


Continua na próxima semana...